O lugar da experiência na Psicanálise

É muito comum encontrar há algum tempo um rechaço integral ao campo da experiência quando se pensa a psicanálise. Nesse cenário, a experiência vira um estorvo que contamina a teoria e obscurece o caminho do psicanalista. Ela deve ser diluída e, no limite, vira um sinônimo para “empirismo”.

A aposta é a de que Freud teria sido aquele que pensou sua disciplina exclusivamente a partir da dependência de marcadores dados na realidade, enquanto Lacan alcançou um outro patamar para a psicanálise prescindindo de qualquer coisa que faça alusão à experiência enquanto tal. O analista teoriza, e é desse lugar abstrato de absoluto criacionismo que ele dirige os tratamentos que conduz.

Contra essas afirmações convém lembrar que apesar de Lacan considerar a importância do lugar da teorização e do conceito, jamais esqueceu de assinalar o campo e importância da experiência em seus textos. O analista não é tão somente aquele que teoriza isoladamente sobre a sua prática, apartado de tudo e todos, mas aquele que deve considerar em seu ato o dado incalculável que advém da interação com o analisando.

Trata-se, portanto, de pensar a psicanálise não como a aplicação automática de uma fórmula. O dado da experiência no tratamento nos convoca a explorar o campo da ação humana, o que nos leva a considerar o problema da ética dentro das análises que conduzimos. É nesse terreno que a dimensão formal se mostra insuficiente para lidar adequadamente com a amplitude, os paradoxos e o limite do desejo na sociedade.

Logo, nosso objetivo não deveria ser construir uma psicanálise ensimesmada no lugar abstrato da fórmula, tampouco acreditar que pensar a experiência sem mediação teórica é possível, mas assumir esses domínios para retirar de seus impasses uma perspectiva clínica mais complexa, que coloca uma ênfase mais particular na condução das ações e na ética que conduz um tratamento.

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